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Coragem e Gentileza (Série Essencial Invisible College)

Esta é uma série de textos escritos para o curso de Teologia Essencial do Invisible College. O curso consistiu no estudo de um tema da teologia por mês com leitura de um livro, materiais complementares em texto, áudio e vídeo, um fórum de perguntas e respostas com um convidado, uma sessão de tutoria com um dos professores em um grupo pequeno e a entrega de um texto (resenha ou artigo). O texto a seguir foi escrito em Maio de 2021 para o tema Apologética.



A vida no evangelho é repleta de paradoxos e supostas contradições: o maior é o menor; o líder é o que mais serve; os últimos serão os primeiros. Assim também, vemos como os personagens bíblicos têm suas vidas transformadas de modo drástico: aquele que era chamado de "filho do trovão" se torna o "apóstolo do amor"; o maior perseguidor dos cristãos se torna o maior apóstolo entre os gentios; o Todo Poderoso Deus se humilha ao se fazer humano e tomar sobre si o sofrimento e o pecado do mundo.

Da mesma forma, o caráter que é exigido do cristão contém antíteses e traços que podem parecer autoexcludentes, mas que na verdade visam o equilíbrio de uma vida santa diante de Deus. Assim, embora pareça improvável que a humildade e a ousadia, a misericórdia e a justiça, a gratidão por esta vida e o anseio pela eternidade habitem o mesmo corpo, a quantidade certeira de cada um desses atributos aperfeiçoará o tempero da vida do crente.

Não somos autorizados pelas Escrituras a viver contentes com o quase, mas encorajados a prosseguir buscando a santificação até alcançar uma vida integralmente perfeita em Cristo. Esse aspecto é fundamental no estudo e no exercício da apologética cristã. Em 1 Pedro 3:15-16, o versículo-chave para muitos apologetas e apologetas, vemos que todo o preparo começa pela santificação. Mais ainda, o apóstolo confirma que a santificação começa com a submissão a Cristo, para que, moldando o nosso caráter até ficarmos parecidos com Ele, alcancemos o sabor correto da vida equilibrada que, na defesa da fé, significa unir o conhecimento à humildade, a mansidão à prontidão, a coragem à gentileza.

No caminho da santificação, somos constantemente tentados a deixar que nossas preferências interfiram na construção do equilíbrio, porque gostamos de um sabor mais adocicado ou da ardência da pimenta. Isso nos leva a destacar no texto bíblico apenas os trechos que exaltam os nossos gostos, esquecendo, deixando de lado ou rejeitando o contraponto. Essa situação é especialmente frequente na apologética, que depende muito de discernimento espiritual e sabedoria bíblica para acertar a medida de coragem e gentileza sem que uma característica anule a outra.

Apologética com Coragem

O teólogo John Frame define a apologética como "a disciplina que ensina os cristãos a dar uma razão para a sua esperança" e distingue três aspectos desta disciplina a partir da sua instrumentalidade. A apologética como prova apresenta uma base racional para a fé; como defesa, responde às objeções de descrentes; e como ofensiva, ataca a estultícia do pensamento descrente. Estas perspectivas sugerem, de imediato, a necessidade de grande coragem e preparo para provar, defender e debater a fé. Não é por acaso que esta qualidade é muito enfatizada àqueles que se dedicam à apologética.

A coragem é muito bem representada na figura do apóstolo Pedro, na primeira parte do livro de Atos dos Apóstolos, com seus ousados discursos defendendo a ressurreição de Cristo diante do povo e das autoridades. A ideia de que um simples pescador da Galileia em poucos anos se habilite a enfrentar as maiores autoridades no meio do seu povo e desafiar as suas ordens é resumida em Atos 4:19-20: "Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus; porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido." [ACF]

É incontestável que essa atitude ousada e corajosa será importante para o exercício apologético. A coragem se traduz em prontidão para responder a todo aquele que o demandar, no temor do Senhor para ser fiel em suas respostas, na ousadia para encarar os desafios no poder do Espírito Santo. A apologeta cristã deve se revestir de coragem para ser encontrada fiel diante dos homens e, principalmente, de Deus.

Toda essa coragem deve ser medida com cautela e humildade. O apologeta habilidoso não pode se perder em sua coragem e talento, chegando a pensar que o seu argumento tenha força para converter os corações, ou que a sua retórica seja suficiente para convencer o pecador. A coragem que se transforma em orgulho terá efeitos contrários à expectativa. O debatedor arrogante centra a discussão em si mesmo, e acaba perdendo o objetivo da apologética. A vontade de vencer a discussão é maior do que o amor pelo perdido. A ousadia e a intrepidez não podem ser confundidas com falta de sensibilidade ou de amor

Apologética com Gentileza

Porque "Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder", não podemos esquecer da continuação do versículo. O Espírito com o qual fomos ungidos desde o novo nascimento é de poder, amor e equilíbrio (ou moderação). No texto de 1 Pedro, o apóstolo adverte para que a apologética seja feita com mansidão e temor, ou seja, com espírito não contencioso.

A apologética cristã, diferente de outros debates, não busca dobrar o outro à sua crença, simplesmente pela razão do argumento. O apologeta cristão não pode desconsiderar o coração do outro, até mesmo para manter a sua conduta irrepreensível diante dos homens. O amor precisa ser o motivo e o veículo pelo qual a razão e a fé são apresentadas ao incrédulo. Sem amor, qualquer argumento seria como um sino retinente, insistente, e até irritante, mas nada eficaz.

Jesus Cristo chamou de bem-aventurados os mansos e os pacificadores. Ele mesmo deu o exemplo quando inquirido sobre a lei e o reino de Deus. Mesmo quando os seus arguentes eram mal-intencionados, a sua resposta era branda, honesta e sábia. O Mestre ensinou como fugir das armadilhas daqueles que não fazem perguntas honestas, sem oferecer munição para as suas maledicências. Mais do que isso, demonstrou como o apologeta que discerne as questões do coração pode enxergar além da pergunta falada, e oferecer a resposta para a dúvida que se calou.

Poderia haver algum mal uso desse ânimo gentil? De alguma forma, o amor poderia ser desvirtuado na conduta cristã? Sim, quando o amor é usado como desculpa para a fraqueza. O mundo usa as palavras corretas quando pede que sejamos mais tolerantes. Ocorre que tolerância não é amor. Amar é também exortar, chamar à disciplina e aplicar a justiça. O amor não cala a verdade, mas comunica com gentileza; não para humilhar, mas para edificar.

Não é possível que a cristandade, em nome do amor, permita-se assistir aos perdidos se afundando no lamaçal do pecado. A mansidão não é um estado inerte, que não incomoda, nem atrapalha. Os mansos também exortam, com palavras brandas, calmas e frequentemente mais eficazes do que o brado retumbante e furioso do pregador da praça.

Conclusão

O espírito de poder e amor é também o espírito de moderação, que nos auxilia a discernir as situações para ajustar as medidas de poder e de amor, de ousadia e mansidão, de coragem e gentileza. Nessa tarefa, nos tornamos mais sábios à medida em que nos submetemos ao Senhor. Quando as nossas preferências e estilos pessoais são colocados a serviço do Mestre, ele pode quebrar, moldar, aparar e até mesmo usar o que temos para a sua glória.

O exercício apologético não é mero debate, não busca o simples convencimento ou o silêncio do adversário. A apologética cristã precisa explicar a nossa esperança, e não apenas a nossa certeza. Para que o apologeta diminua, e o Evangelho apareça, a sua fala precisa ser sábia e equilibrada. “O sábio de coração é considerado prudente; quem fala com equilíbrio promove a instrução”. (Provérbios 16:21 NVI)

Manter uma posição equilibrada em uma sociedade que exige posicionamentos polarizados e extremos é o movimento no qual precisamos insistir. Neste momento, oramos a Deus para que nos revista de sabedoria e discernimento, de modo que as nossas palavras estejam bem temperadas, com coragem e gentileza.

Coragem para avançar, gentileza para alcançar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRAME, John M. Apologética para a glória de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.

GEISLER, Normal L; TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Vida, 2006.

MACARTHUR, John. O resgate do pensamento bíblico. São Paulo: Hagnos, 2018.

Por que temos filhos?

Por que ter filhos... em um mundo como esse? em uma vida como a minha? nessa economia? em uma pandemia? É muito fácil encontrar motivos para não ter filhos. A rotina, o dinheiro, a violência, o clima, a crise, a carestia. Acho que é importante pensar sobre isso. Pensar de verdade sobre essas questões, não como quem procura a melhor desculpa do catálogo, mas pensando de fato como isso impacta a nossa vida individual e comunitária.




Há uma multidão de mães desapontadas, frustradas e decepcionadas com a maternidade. Elas falam sobre o peso, a carga, a demanda e afirmam terem sido enganadas por uma visão romântica da maternidade. Certamente elas não refletiram sobre o que estavam fazendo. Dizem que só conheceram o lado exaustivo da maternidade quando chegaram do outro lado e se empenham em pregar essa palavra: cuidado, a maternidade é um fardo! É uma palavra impactante para quem ainda não tem filhos.

A gente não convive mais com crianças. Estamos hermeticamente fechados em nossos pequenos núcleos familiares, vivendo, trabalhando, comendo, passeando e passando todo o nosso tempo com adultos. O que é uma criança? Como vivem? Como se comportam? Isso é normal? Será defeito de fábrica? A incerteza da expectativa acompanhada de tantas avaliações negativas coloca o produto de volta na prateleira.

Afinal, por que alguém teria filhos de propósito em um mundo como esses, sabendo que isso vai estragar a sua vida?

Outro dia uma dessas mães arrependidas disse que, provavelmente, aquelas que amam a maternidade tiveram uma criação muito diferente da que ela recebeu. Sem querer, ela falou uma verdade que ainda não alcançou: a alegria da maternidade não está no sorriso da criança, nos hormônios do amor, na gratificação do ser humano que você está deixando para o mundo. Não dá pra contar com isso, e mesmo que você tenha tudo isso, não vai durar. Não é eterno.

Deve ser muito mais fácil amar a maternidade quando era  o que você queria na vida (a gente está acostumada a falar assim, como se fosse pouca coisa, né?). Por isso se diz que quem foi criada para ter uma profissão exigente, para conquistar o mercado, a fama, o dinheiro, o sucesso, pra ser uma grande bem-sucedida em alguma coisa terá muitas dificuldades com a maternidade.

A maternidade atrapalha. Abre um buraco no currículo. Rouba suas horas de sono, ocupa muito espaço nos seus pensamentos, e na maioria dos dias não é nada gratificante. Todo o seu trabalho em preparar uma refeição fresca, orgânica, colorida e caseira pode ser recebido por uma criança que vai comer só os grãos do feijão, sem caldo. Mas isso tudo depende de como você enxerga o mundo.

A diferença entre o que atrapalha e o que transforma a sua vida está no seu propósito. Afinal, para que você existe? Se o seu propósito de vida é enriquecer, fazer sucesso, engrandecer o seu nome, as crianças vão atrapalhar ou se tornar parte do cenário, terceirizadas ao máximo, aparecendo apenas quando for coerente com os seus objetivos.

Esse não é um texto para te convencer. Se você pensa como eu, isso não será necessário. Se não temos os mesmos valores, não será suficiente. Ninguém precisa justificar as suas escolhas pessoais e familiares para estranhos, mas entender os motivos pode ajudar a olhar para o outro com mais empatia e respeito. Então, por que eu tenho filhos?

Tenho filhos porque não vivo para mim

Para algumas mulheres, a maternidade é um assalto. Aquele serzinho fofo tira as suas horas de sono, a sua autonomia pra sair quando quiser... até as músicas que você ouve no carro agora são escolhidas por outra pessoa de gostos peculiares e repetitivos. A ideia de que eu não posso nem tomar banho em paz é aprisionadora, não tenho como discordar disso. 

Um dia você é livre para pensar somente em si, e no outro tem uma pessoa indefesa que depende de você para sobreviver. É uma grande mudança, e pode ser traumatizante. É muito frustrante não conseguir realizar todos os seus desejos, mesmo os mais simples. Mas sabe de uma coisa? Eu nunca vivi só para mim.

De verdade, ninguém é realmente livre para fazer o que quiser, mas de alguma forma podemos ser escravizados pelos nossos próprios desejos. É fácil viver de picos de dopamina a cada vez que eu faço o que eu quero, minimizando as frustrações com algum amortizante. É difícil fazer o que eu não quero, o que é melhor para o outro, ou para os outros.

Isso é importante para os cristãos. Eu não vivo para mim porque Jesus é Senhor sobre a minha vida. Eu sou livre para desobedecer os meus próprios desejos, fazer a coisa certa e ainda sentir prazer nisso. Eu já não vivia para mim, e as minhas filhas me ajudam a lembrar que eu não sou o centro de nenhum universo, nem do meu.

Tenho filhos porque a minha casa não é aqui

Seres desejantes que somos, nunca estaremos saciados. Você pode se priorizar, fazer do egoísmo um objetivo de vida, mas alguma coisa sempre vai faltar. C. S. Lewis disse uma vez que se eu não acho nada nesse mundo que me satisfaça, eu só posso concluir que a minha casa não é aqui. Essa esperança de que há coisas melhores na eternidade diminui bastante a pressão sobre os meus objetivos aqui.

Não é que eu não queira mais nada dessa vida, longe disso... é que colocar todo o seu amor, o seu empenho, a sua dedicação nessas coisas que duram tão pouco será inevitavelmente frustrante. Tudo o que não é eterno, é eternamente inútil. Vai ser muito legal ter um título acadêmico, uma casa enorme, um salário bacana, um monte de carimbos no passaporte, mas quanto tempo isso vai durar? E isso tudo serve para quê? Se você pensar na eternidade, o quanto essas coisas importam? Nada. Só as pessoas importam. É melhor investir em vidas.

Tenho filhos porque tenho outra cultura

Nesse ponto, você já percebeu que estamos falando de uma visão de mundo peculiar. Por isso eu disse, não quero te convencer, nem preciso me justificar. O cristianismo é outra cultura. Não é a cultura ocidental consumista e imediatista que a gente vê por aí - até em algumas igrejas ditas cristãs. Amar as pessoas, amar a maternidade, amar o serviço é amar o meu Senhor. É outra cultura.

Eu não apenas fui criada (pelos meus pais) para isso, eu acredito que nós fomos criados (por Deus) para fazer isso. Isso não me impede de estudar, viajar, trabalhar, comprar, guardar momentos para ficar sozinha... mas dá outra perspectiva sobre essas coisas. E olha, vendo o quanto as pessoas andam frustradas por aí, eu não posso dizer que estou do lado errado da história.

Cosmovisão Bíblica Familiar (Série Essencial Invisible College)

Esta é uma série de textos escritos para o curso de Teologia Essencial do Invisible College. O curso consistiu no estudo de um tema da teologia por mês com leitura de um livro, materiais complementares em texto, áudio e vídeo, um fórum de perguntas e respostas com um convidado, uma sessão de tutoria com um dos professores em um grupo pequeno e a entrega de um texto (resenha ou artigo). O texto a seguir foi escrito em Abril de 2021 para o tema Cosmovisão.




A família é a instituição mais antiga do mundo. As relações familiares traçaram hierarquias e limites, desenvolveram sociedades e culturas e moldaram o pensamento humano. A própria identidade é determinada e, ao mesmo tempo, determina a função que o sujeito exerce na família e, consequentemente, na sociedade. A partir da família e de suas necessidades de sobrevivência e crescimento determina-se o que é um adulto e uma criança, quais são as funções de um homem e de uma mulher, de uma mãe e de uma avó.

As relações familiares recebem muita influência da religião e da filosofia do seu tempo, mas são passadas de geração em geração, principalmente, pela tradição: a contação de histórias, a repetição de comportamentos, a atenção à sabedoria anciã. O costume dos mais velhos continua sendo um grande valor em diversas civilizações.

Na cultura ocidental, o desenvolvimento da psicologia e dos estudos sobre a infância e o comportamento no decorrer do século XX impactaram a família e suas relações. Essa diferença é bastante percebida no livro “A visão transformadora”, quando os autores demonstram a manifestação de uma cosmovisão até mesmo nos atos mais ordinários da vida, como o banho dos bebês. Mesmo sem pensar a respeito, os aspectos mais banais da vida comum e familiar são regidos por uma cosmovisão, que cria a “cultura familiar”. São os valores formativos da infância e as tradições passadas entre as gerações.

O ambiente familiar forma e propaga cosmovisões, mas existem outros momentos e ambientes propícios a crises que podem levar a romper e adotar uma cosmovisão a partir de uma nova perspectiva de vida. A formação de uma nova família pode ser um desses momentos de crise, quando aqueles que estão prestes a se tornar pais têm a oportunidade de refletir sobre a sua cultura e abraçar ou romper com a visão de mundo que conheceram na infância. Mas o que define exatamente uma cosmovisão?

Cosmovisão é uma estrutura perceptiva: uma visão de vida e uma visão para a vida. Ela dá resposta às questões fundamentais da vida: quem eu sou? Onde estou? O que está errado? Qual é a solução? Essas questões baseiam os anseios e crenças fundamentais, a razão de viver e morrer, as relações interpessoais e das pessoas com o mundo. No entanto, nem sempre essa estrutura perceptiva é percebida, como a criança que cresce míope e, como nunca conheceu o mundo de outra forma, pensa que ele é assim como ela o enxerga, e que todas as pessoas devem enxergar assim também.

Nesse sentido, é interessante observar que, para WALSH & MIDDLETON, uma boa cosmovisão deve estar ciente de suas limitações e disposta a aprender. Isto porque toda cosmovisão é uma interpretação humana sobre a vida e o mundo. Ainda que a cosmovisão se denomine cristã ou bíblica, nenhuma cosmovisão é o cristianismo ou as Escrituras. A cosmovisão que se denomina bíblica deverá sempre voltar à fonte para entender o mundo por meio de uma compreensão cada vez maior das Escrituras.

Perceber a cosmovisão não é importante apenas para mudar de direção. A consciência permite a autocrítica e o refinamento. Será sempre necessário examinar se a prática condiz com o discurso ou se estamos embarcando em dualidades, rejeitar aquilo que não pertence e aprofundar as raízes nas fontes da cosmovisão adotada.

Mesmo entre os cristãos confessionais, a cosmovisão dominante interfere e muitas vezes suplanta a cosmovisão bíblica na vida familiar, vista como um campo privado à parte da vida religiosa. Diversas influências e filosofias que adentram as famílias para dar uma nova perspectiva à educação dos filhos trazem também cosmovisões ou fragmentos de cosmovisões que contaminam as respostas já conhecidas para as perguntas fundamentais.

Esse movimento secular é respondido por outro movimento preocupado em preservar e resgatar as tradições e a religiosidade familiar. É importante que essa preocupação não se torne uma obsessão, com tendências monásticas, para blindar a cultura familiar de qualquer influência externa. Essa blindagem impede a visão dos seus verdadeiros limites e extingue a permeabilidade com a qual podemos aprender – características de uma boa cosmovisão.

Precisamos lembrar que cosmovisões são estruturas humanas. Trata-se da nossa visão imperfeita do mundo e para o mundo. Somente Deus tem a visão perfeita. Quando nos aproximamos de Deus, estudando as Escrituras e experimentando o agir do Espírito Santo, somos contemplados com a sua visão. Como a criança míope que usa óculos pela primeira vez, percebemos, enfim, como era distorcido o mundo que ela enxergava. Essa nova consciência também nos faz perceber o quanto precisamos de Deus.

A vida familiar, assim como a economia, a arte, a ciência, a agricultura, é resposta ao mandato cultural de Deus. Mas isso não faz de nenhum modelo familiar o modelo correto. Como parte de uma estrutura humana, a família também está caída. Assim, muito embora não possamos afirmar que não exista um modelo familiar correto e bíblico – porque a verdade absoluta existe e está presente em Cristo – seria também errado afirmar que qualquer modelo humano seja algo mais do que uma tentativa de aproximação do ideal divino.

Quando se trata de criação de filhos, há uma forte tendência de deixar que as relações se desenvolvam “naturalmente”, repetindo ciclos e mantendo tradições sem refletir sobre a conveniência dessa permanência. Contrariando esse pensamento, muitos pais e mães têm refletido sobre a sua parentalidade à luz do conhecimento adquirido na academia e em outros meios de estudo. Essas reflexões ensejam a profundidade e o discernimento de que carecem muitos pais que não sabem explicar por que agem como agem, às vezes até contrariando sua própria vontade.

É importante conhecer o desenvolvimento humano, o funcionamento da mente e da aprendizagem, as relações sociais e as formas de comunicação mais eficientes. Da mesma forma, é útil para a educação de filhos conhecer métodos de aprendizagem, pedagogias alternativas à formação dominante, comunicação não violenta, disciplina positiva e tantas outras teorias e abordagens comportamentais, bem como suas críticas. Todo esse conhecimento deve ser levado cativo às Escrituras e confrontado com a Palavra de Deus para permear a cosmovisão bíblica familiar. A boa cosmovisão bíblica usará a Bíblia não como escudo contra qualquer teoria humana, mas como filtro para examinar todas estas coisas, retendo o que é bom.

De outro modo, a vigilância se aplica ao consultar as Escrituras, não para examinar o texto bíblico, mas o olhar do leitor, que pode estar contaminado, embaçado ou distraído por outras “verdades”. É necessário achegar-se às Escrituras com o coração contrito e quebrantado, disposto a aprender e abandonar os ídolos do coração. Não confrontamos o texto bíblico com aquilo que aprendemos, mas somos confrontados pelo Espírito Santo a respeito daquilo que assumimos como verdade. O examinador humilde examina a si mesmo.

O tema da família traz implicações muito íntimas. Alguns dirão que a família é sagrada, outros carregam marcas de abuso e violência que colocaram essa importante instituição em descrédito. Em qualquer circunstância, precisamos lembrar que a família foi criada por Deus, e como tal é valiosa; mas que também sofre as consequências da queda, como toda a Criação. Acima de tudo, precisamos lembrar que nossa esperança não está em métodos mais eficientes, esforços mais dedicados ou normativas mais rigorosas, mas na redenção em Cristo Jesus. Enquanto isso, precisamos entender os fenômenos culturais e submetê-los ao senhorio de Cristo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018.

GOHEEN, Michael W; BARTHOLOMEW, Craig G. Introdução à cosmovisão cristã: vivendo na intersecção entre a visão bíblica e a contemporânea. São Paulo: Vida Nova, 2016.

WALSH, Brian; MIDDLETON, J. Richard. A visão transformadora. São Paulo: Cultura cristã, 2010.

4 dicas para viajar tranquila com crianças (até sozinha!)

Sair sozinha com crianças no plural dá trabalho, mas ficar em casa também dá. Por mais que a rotina seja amiga, de vez em quando é bom passar um perrengue diferente, mas sem enlouquecer. No início do mês eu viajei para participar de uma conferência com um bebê de 1 ano. Depois, decidi levar também a filha mais velha e no fim das contas o marido foi também... só que voltou mais cedo, e nos três dias que fiquei sozinha com elas, tirei algumas lições.



1. Tenha pessoas

Engraçadinha, né. A primeira dica para viajar sozinha é não estar sozinha?! Se você não está com alguém que divide com você a responsabilidade pela criança, então você está sozinha, sim. Mesmo que esteja com avó, melhor amiga, grupo de amigos... se eles vão te chamar na hora de trocar as fraldas, então está sozinha, sim. 
Mas olha, é muito melhor ter essas pessoas do que não ter nenhuma. É alguém pra descansar o seu braço com tanto colo, pra olhar enquanto você vai ao banheiro... Rede de apoio é isso, sabe? Quem não tem obrigação, mas tá ali, ajudando. Se for pra viajar sozinha, com rede de apoio é sempre melhor.

2. Prepare-se para não ter ajuda nenhuma, aceite toda a ajuda que conseguir

Não dá pra sair contando com o trabalho dos outros. Mesmo que tenha sido combinado, eu sempre tenho um plano B. E se a criança não quiser ficar com a vovó? Se ela não gostar do espaço infantil? Se o motorista não quiser te ajudar a instalar as cadeirinhas, você sabe fazer sozinha? Consegue fazer com criança e tudo? Não ser pega de surpresa pelo perrengue torna a situação menos difícil.
A minha dificuldade com isso é estar tão preparada pra fazer tudo sozinha que acabo dispensando ajudas que tornariam tudo muito mais fácil. Sim, você dá conta, mas não precisa. Economiza essa energia e usa as carinhas fofas das crianças pra conquistar a simpatia e a gentileza de quem estiver por perto. Aceitar ajuda não diminui em nada quem você é e o que você faz.

3. Foco nas necessidades básicas

Alimentação, sono, banheiro... nada será como antes você faz em casa, mas de alguma forma isso precisa acontecer. Por isso que viajar com bebê é bem mais fácil: mama no peito, dorme no colo, xixi na fralda... Se a criança for maior, ainda tem outras necessidades: interação social, movimento, estímulos sensoriais. A criança que não para de falar, de correr, de se esfregar nas coisas (!) está tentando suprir uma necessidade.
Na bolsa das crianças sempre tem uma troca de roupa e de fralda, água fresca e lanche seco (biscoito de polvilho, uva passa, bolacha de arroz...). Dependendo da programação e do local, pode ter também uma fruta cortadinha, material para desenho, livro de colorir, o brinquedo favorito (se não for barulhento)... Qual é o seu truque dentro da bolsa? Compartilha com a gente nos comentários.

4. Mantenha a rotina, mas não tanto

Não adianta querer que tudo funcione como em casa. "Sair da rotina" é um pouco do objetivo da viagem. Descansar da rotina. Isso não significa "meter o pé na jaca". A criança vai precisar de algumas "âncoras", e você também. Se não der pra manter o horário de dormir, a sequência da rotina noturna pode ser a mesma. Usar telas em determinados momentos pode ser estratégico, perder a mão aí pode atrapalhar o resto do dia.
Não são só as crianças que são rígidas. Às vezes a gente se acostuma tanto a fazer as coisas de um jeito específico, que entra em crise quando não dá pra fazer exatamente igual (e é por isso que tem gente que leva a casa toda na viagem). É legal experimentar. Mostre isso para as crianças, permitindo-se experimentar também. Três dias de banho de chuveiro não vão quebrar a criança que sempre toma banho de banheira. Cuidado para não se viciar nos confortos de casa de tal forma que você só consegue fazer x se tiver y. 
Adaptações em viagem são exceções. As crianças sabem muito bem que esse é outro ambiente. Elas podem até pedir pelas adaptações em casa, mas há expectativa pelo retorno da rotina (mesmo na preferência da mudança). Não se preocupe com "vou ter que fazer assim pra sempre". Nada nunca é para sempre.

Ninguém está totalmente preparada, mas a gente pode se divertir no caminho. É cansativo, sim.. mas ficar em casa também cansa, e não rende tantas histórias. Não será a mesma coisa, nunca será. Mas o diferente também pode ser bom. Vamos tentar?

Eu já tinha viajado sozinha com uma criança, mas essa foi a minha primeira vez com duas. Vamos trocar dicas de mãe! Você já ouviu as minhas, deixe a sua dica nos comentários.

Relato de parto: Ana Luísa 13.10.2021

Devagar e sem pressa, Ana Luísa dava sinais de sua chegada. A experiência do primeiro parto torna as coisas mais leves. Todas as dores são conhecidas além da teoria. As inseguranças também. O primeiro parto torna todos os outros possíveis. Quando parece que não dá, é aí que termina. Mas quanto tempo a gente aguenta até chegar lá?

Maria Elisa também veio devagar, e eu sempre tomo muito cuidado ao contar para quem vai fazer essa jornada pela primeira vez. Não dá pra dizer, simplesmente, que foram trinta e seis horas de trabalho de parto, sem assustar as pessoas. Aliás, esse trabalho de parto também já foi relatado (clica pra ler). Como dizer, então, de um parto que começou no domingo à noite e terminou na madrugada de quarta-feira?


Vou começar pelo fim: foi tudo muito rápido. Do zero ao nasceu em apenas uma hora. Não deu tempo de chamar ninguém. Nem eu acreditava que já estava no fim. Eu sabia o que eram aquelas contrações, mas também sabia que não poderia ser. Já?!

Durante a semana toda eu tive contrações. Leves e fortes. Curtas e longas. Faltava ritmo. O marido lia o meu rosto e perguntava: "Vai nascer?". Eu respondia "talvez", não como quem brinca com essas coisas, mas quem sabe? Pode não ser nada, pode ser o começo de tudo. Eu vigiava sem dar muito alarme. Não queria mobilizar as pessoas antes de saber o que estava acontecendo.

No domingo à noite, coloquei Maria para dormir e avisei a doula que começaria a contar as contrações. Pedi para o marido buscar a sogra, caso as coisas ficassem animadas durante a madrugada. Enquanto ele estava fora, uma sequência de contrações longas e fortes trouxe uma sensação molhada que não fazia parte da minha experiência. Será que a bolsa estourou?

Não teve 'ploc', nem um aguaceiro pelo chão, mas o líquido escorria pelas pernas. Combinamos por telefone o encontro no hospital para avaliação. Madrugada de domingo e parecia que nenhum bebê estava a fim de nascer. A recepção estava vazia e mesmo assim o meu acompanhante foi convidado a se retirar. Um convite protocolar, não insistido, mas repetido cada vez que eu passava de uma sala para a outra. Os exames estavam bem, mas ainda sem dilatação. As contrações, que vinham embaladas, foram diminuindo até parar.

(Eu culpo o ambiente do hospital? Culpo, sim. Os funcionários, não, mas a instituição, que hostiliza as pacientes e seus acompanhantes desde a porta de entrada. O hospital conhece muito bem a legislação, e sabe que não deve impedir o cumprimento da lei... mas instrui todos os seus funcionários a agir como se desconhecesse os direitos dos pacientes, contando com a ignorância de quem precisa de atendimento.)

O início do trabalho de parto não engrenou. Parece que deu uns seis passos pra trás. Ana Luísa encaixou como uma rolha e segurou o líquido que ainda não tinha vazado. Seguimos com monitoramento e avaliações periódicas com a equipe mais paciente e querida do mundo. Em casa, esperando o trabalho começar pra valer, vendo os últimos momentos se transformarem em penúltimos, nada de muito emocionante acontecendo. Até as noites de sono ficaram mais tranquilas.

Só não era tranquilo ter que visitar o hospital. Em uma das ocasiões, meu marido foi convidado a se retirar quatro vezes nos primeiros dez minutos. A resposta era apenas uma recusa educada, mas ainda assim o segurança foi chamado. Precisamos mostrar o plano de parto e a resposta com o timbre do hospital. Ele foi consultar a enfermagem e retornou pedindo desculpas. "Realmente, como vocês têm autorização pelo plano de saúde, você tem o direito de ficar".

Pra mim, essa justificativa foi o pior de tudo. O direito ao acompanhante não é um privilégio. A declaração do hospital de que eles vão cumprir a lei porque nós fizemos um acordo gerou um constrangimento na recepção do hospital. Do lado de fora, outros acompanhantes esperam sem ter sequer um lugar para sentar. Há quinze anos, a mesma desculpa de "falta de infraestrutura", mas em todo esse tempo não faltou tempo ou recursos. Faltou vontade. O hospital "amigo da criança" é desumano com os seus pais.

Isso cansa. Tudo isso cansa. As contrações que começavam e paravam. A expectativa pela próxima violação de direitos. A ansiedade pelo tempo que passa. Monitorando, medindo, avaliando, medicando... Uma exigência do corpo e da mente, para ter paciência e esperar o tempo do parto. Na terça-feira, a minha preocupação era estar forte para chegar lá.

Maria Elisa vigiava as idas ao hospital, e agora já sabia que a irmã estava por nascer. A despedida foi tranquila, ou pelo menos pareceu. Eu fiquei arrasada pensando na nossa primeira noite distantes, prometi ligar de manhã bem cedo. Ela estava ansiosa para ver a irmãzinha. Nós também.

Quem parecia ter toda a paciência do mundo era o Thiago, nosso obstetra. Já estávamos com quase 48h de bolsa rota quando chegamos para a avaliação. Todos os parâmetros de saúde estavam bons, mas estava na hora de ter a conversa. Falamos sobre indução de parto e tiramos todas as dúvidas do caminho. Não teve pressão, nem manipulação. Eu sabia que podia escolher, mas eu já estava decidida pela indução, para parir enquanto ainda tinha forças.

Me preparei psicologicamente para uma noite daquelas. Geralmente o parto acontece na terceira dose da medicação, depois de dez horas de indução. No quarto, com marido e doula, passamos o tempo entre contrações e histórias. Quando eu resolvi descansar, meu médico voltou para avaliar o colo, que começava a dar sinais de abertura, mas ainda nem um centímetro. Ele aplicou a segunda dose e combinamos o próximo encontro para as seis da manhã... ou antes, se precisar.

Deitada por uma hora após a medicação, as contrações vinham com força. Eu queria sair da cama, ficar em qualquer posição, mas não queria perder o remédio. A Alli me ajudava com posições horizontais quando vinham as contrações, cada vez piores. Uma vez, saiu um líquido e pensei "expulsei o remédio". Ela disse que estava tudo bem. Eu só pensava em quanto tempo faltava pra sair daquela cama, e como faziam as mulheres que eram obrigadas a ficar deitadas o tempo todo.

Quase acabando o tempo, senti o expulsivo e pensei "não pode ser, é cedo". Virei de lado e me agarrei nas grades da maca enquanto fazia força. Um esguicho. Expulsei todo o líquido que ainda tinha na bolsa. Acabou a primeira hora. Mas era só a primeira hora. Se continuasse escalando assim, como eu aguentaria até as seis horas? Nem passou pela minha cabeça que eu já estava parindo.

Levantei pedindo ajuda para ir pro chuveiro amenizar as dores, mas não dei um passo. Agachei e empurrei. Ouvi a Alli dizer algo sobre sinal de dilatação e balancei a cabeça negativamente: "Está saindo... a cabeça!" Depois disso eu só lembro de ouvir correria pra lá e pra cá enquanto eu empurrava o bebê agachada no chão do quarto, ao lado da cama, segurando as mãos de Haralan por cima de uma bola de pilates. Veio com uma mão no rosto, e eu senti que descia de um para jeito diferente. Me concentrei para empurrar devagar. Ela foi amparada pelas mãos da Alli, que a entregou para mim. 2h29, 13 de outubro de 2021.

Depois que eu subi, com ajuda, na maca, não tinha mais interação com o mundo. As pessoas se movimentavam ao redor como num filme, a realidade estava todinha no meu colo. Vi a Alli, e depois o Thiago, dando ordens e criando o ambiente mais confortável que a gente queria. O pai cortou o cordão. A placenta saiu inteira. O períneo, para a minha surpresa, íntegro.

Foi um trabalho de paciência e resistência. Chegamos ao final com uma intervenção na medida certa e na hora certa, acompanhada por pessoas que me deixaram segura para esperar e decidir. Minha gratidão a eles: Alli, Thiago e Haralan. Mais um parto inesquecível pra gente.

MEU TIME 💓

Pai: Haralan Elias Melo Mucelini

Obstetra: Thiago Moura Saura

Parteira: Alli Nunes

Fisioterapeuta pélvica: Tatiane Martins

Fisioterapeuta (pilates): Luanny Nicaretta

Enxoval minimalista

Pesquise sobre enxoval de bebê e você encontrará listas, infográficos e planilhas cheias de coisas que você precisa providenciar antes do nascimento da criança. As listas incluem quantidade de meias, toucas, luvas, e podem parecer tentadoras se você, como eu, gosta de ter tudo sob controle em uma planilha. O que não se vê por aí é um debate sincero sobre quantas coisas são realmente necessárias, e para quem.

Listas de enxoval não atentam para as necessidades da família, não observam o seu estilo de vida, nem as suas escolhas de maternidade. Quando muito, fazem leves adaptações para bebês que nascem no verão ou inverno. Mas e aí, do que um bebê realmente precisa?



Um recém-nascido não precisa de coisas. Ele vem ao mundo sem nada, querendo apenas colo e leite. No colo, ele está aquecido e acolhido. No peito, ele é alimentado e hidratado. Nos braços familiares, o bebê interage com o mundo, que vai se alargando aos poucos.

Bebês não conhecem coisas, e por isso não precisam delas. Quem precisa dessas coisas somos nós, para atender melhor o bebê enquanto continuamos lidando com as demandas da vida. Se eu não posso ficar aninhada na cama aquecendo o neném o tempo todo, então preciso vesti-lo. Se eu preciso me deslocar de carro com a criança, providencio o dispositivo de segurança adequado. Se eu preciso que o bebê durma perto de mim, ou que me dê algum espaço, mas ainda fique sob minha vigilância, terei as coisas que tornam tudo isso possível, adequado e confortável. Mas essas são as minhas necessidades. Por isso, a pergunta é: do que a sua família precisa?

Não sei.

Tudo bem não saber. Ainda mais quando o primeiro filho está para chegar. A gente não sabe. Essencial em uma família pode ser uma tralha nunca usada em outro lar. E se eu não sei que mãe eu sou, como me preparar pra isso? Existem dois jeitos de lidar com isso: comprando absolutamente tudo que há no mercado infantil só pelo "vai que precisa", ou esperando até a necessidade aparecer.

Algumas coisas são de fato importantes. Outras podem ajudar. Muitas coisas são só perfumaria, e mais um monte de coisinhas vendidas por aí na verdade só atrapalham.

Alimentação

Essencial é ter leite. Algumas coisas ajudam, mas muita coisa atrapalha. Muuuuita coisa só atrapalha. Se o seu plano é amamentar, não tenha mamadeiras, chuquinhas, chupetas, leite em pó em casa. Nem como plano B. Amamentar é difícil, principalmente no começo. Se você tiver um plano B, rapidinho o plano A ficará desinteressante. Deixar essas coisas na farmácia cria um obstáculo a mais para te ajudar a persistir amamentando.

O que pode ajudar? Uma boa almofada de amamentação (grande, alta e firme é melhor), bomba extratora de leite, coletor de leite a vácuo, absorventes de seio, sutiãs e roupas adaptadas para amamentar. Eu gosto de ter um copo pequeno (importante ter a boca pequena) ou uma colher dosadora quando o peito não estiver disponível. (É mais fácil usar mamadeira que aprender a dar no copinho? Sim. Mas o mais fácil nem sempre é o melhor.)

Higiene

Essencial é água e, depois do primeiro mês, sabão. (Pois é, geralmente não precisa banhar com sabão o recém-nascido). A maioria das coisas nessa área ajuda, mas muita coisa vira tralha ao longo do tempo. Eu prefiro dar banho na pia e no chuveiro do que em banheira (o trabalho de montar, desmontar, o espaço que ocupa... não acho prático, mas isso é pessoal). Também gosto mais de um trocador portátil por perto do que ter que levar o bebê até o trocador a cada troca de fraldas. Com o passar do tempo, o trocador acaba ficando só para os passeios.

É sempre bom ter uma pomada para assaduras, e na minha opinião nenhuma é melhor que a Weleda. Não usamos sempre porque com fraldas de pano não há necessidade, mas quando necessário basta passar uma vez. Em casa limpo com algodão (em quadrados) e água, ou direto na torneira, e uso lenços umedecidos somente para sair.

Passeio

Esse é um ponto que depende muito do estilo de vida de cada família. Não vejo necessidade de um carrinho de bebê para quem não costuma andar a pé. Já a cadeirinha, considero importante mesmo para quem não tem carro. Eventualmente você pode precisar sair de carro, de carona, e não deve esperar que o dono do automóvel tenha o dispositivo adequado para o tamanho do seu bebê. Não é só para obedecer a lei, é para salvar a vida. Acho que vale o investimento.

Gosto muito de carregadores de bebê, inclusive para usar em casa. Libera as mãos para fazer as coisas e mantém a criança por perto, acolhida e segura. Todos os modelos ergonômicos - que mantém o bebê virado pra você, nunca de costas em relação a quem carrega, e que deixam o bebê sentado com os joelhos acima do quadril, e não pendurado pela virilha - são legais: slings, mei tais, mochilas...

A bolsa ou mochila é do adulto. Você é quem vai carregar. Com o passar do tempo, a gente precisa de menos coisas à mão, e já não tem necessidade de andar cheio de trem por aí. Chega o dia em que dá pra deixar uma bolsa de "extras" no carro, por exemplo, e sair só com uma babita e uma fralda. Então, a bolsa é útil, mas não é fundamental... e uma ecobag também cumpre a função.

Quarto

É aconselhável que o bebê durma no mesmo quarto que os pais até 1 ano, principalmente nos primeiros seis meses. Isso reduz o risco de morte em bebês durante o sono, seja por asfixia acidental ou pela síndrome de morte súbita do lactente. Também melhora o sono para boa parte das mães, pelo menos para mim é muito mais tranquilo dormir com o bebê por perto do que ficar levantando a noite toda pra ver se está tudo bem. Daí você já vê que não tem pressa nenhuma em aprontar o quartinho do bebê, né?

Você pode fazer isso com calma, descobrindo aquilo de que você realmente precisa e até fazer um quarto que combina com a criança, com as coisas que ela gosta. Gosto de ter um tapete de tecido, a cama baixa para deitar com a criança e manter as coisas acessíveis para livre exploração do ambiente. Essas preferências refletem o que é importante pra gente, e pra que serve o quarto da criança. Se o quarto é dela, tem que ser bonito, útil, acessível e agradável para ela. Já pensou nisso?



Resumindo

Deu pra entender que as coisas não são assim, uma lista do Pinterest, né? O que está na minha lista pode não fazer sentido nenhum pra você. "É sobre isso, e tá tudo bem". Você pode experimentar, pode mudar de ideia, desistir, repensar, testar alternativas até encontrar o que dá certo por aí.  Principalmente no primeiro filho, quando você só tem ideias e expectativas que podem se materializar ou não.A sua experiência é única, como é a sua família e o seu filho também.

Se tiver que escolher onde colocar o seu dinheiro, meu conselho é que invista em pessoas: a doula que vai segurar sua mão no dia mais importante; a pediatra que vai te atender com calma e tirar todas as suas dúvidas; a consultora de amamentação experiente que vai resolver as suas maiores dores; a diarista que vai cuidar de tudo enquanto você cuida do bebê... do que você realmente precisa?

“Mostra-nos o Pai!” (Série Essencial Invisible College)

Esta é uma série de textos escritos para o curso de Teologia Essencial do Invisible College. O curso consiste no estudo de um tema da teologia por mês com leitura de um livro, materiais complementares em texto, áudio e vídeo, um fórum de perguntas e respostas com um convidado, uma sessão de tutoria com um dos professores em um grupo pequeno e a entrega de um texto (resenha ou artigo). O texto a seguir foi escrito em Março de 2021 para o tema Teologia Bíblica do Novo Testamento.




A eternidade no coração do homem sugere a existência de algo maior do que a sucessão de tempos e atividades da vida comum, mas não explica e não concede uma compreensão acerca de Deus e seus caminhos. A busca humana pelo divino tem nos levado a diversos caminhos místicos e explicações esotéricas para os mistérios da vida, mas não ao conhecimento do Deus verdadeiro.

É o próprio Deus quem se revela, desde a criação do mundo, por meio das coisas criadas, exibindo seus atributos invisíveis, seu poder e natureza divinas, mas também falando, ensinando e se mostrando diretamente a alguns homens que o registraram naquilo que hoje chamamos de Escrituras Sagradas. A Teologia Bíblica lida com o processo da revelação de Deus registrada na Bíblia e busca compreender, especificamente, como Deus se revelou à humanidade nesse tempo.

É interessante notar que Deus não se revela como uma aparição, uma entidade cósmica, um intangível distante, mas por sua própria iniciativa estabelece com o homem um relacionamento. A revelação relacional de Deus nos mostra diferentes atributos em diferentes contextos. Isso não significa que Deus mudou.

A imutabilidade é um dos atributos de Deus. Ele é eterno, infinito e imutável, mas nem sempre é compreendido assim. A ideia de que o Deus do Antigo Testamento é diverso do Deus do Novo Testamento é tão antiga quanto a Igreja. Marcião de Sinope foi provavelmente um dos primeiros a sustentar essa ideia. Ele tinha dificuldades em conciliar os ensinamentos de Cristo com as ações divinas relatadas no Antigo Testamento. A conclusão de que se tratava de divindades diferentes foi a forma que encontrou para resolver as supostas incoerências da divindade bíblica.

Essa mesma ideia resiste até hoje, sendo um tema constante na apologética a imutabilidade divina e o mistério da trindade. No entanto, o problema da suposta incoerência não parece se resolver com a doutrina da trindade, posto que o Deus Pai de que fala o Filho ainda pode parecer muito diferente do Deus do Antigo Testamento.

Para resolver esse problema, será necessário abordar, primeiro, o próprio problema. Trata-se da expectativa de um Deus sem complexidade, unifacetado, que se manifesta e se revela sempre da mesma maneira. Ocorre que Deus não tem qualquer obrigação de atender as expectativas humanas sobre o Deus que elas querem ver, muito menos àquelas que diminuem e limitam a sua existência. O que muitos atribuem a uma suposta contradição bíblica ou divina não passa de um conhecimento limitado do Deus que se revelou.

A descrição de uma divindade amorosa no Novo Testamento em contraste com a divindade cruel do Antigo Testamento não resume o caráter divino apresentado nessas porções das Escrituras. Esse argumento reducionista não revela a essência divina, mas a superficialidade do conhecimento que se tem sobre Deus e a sua Palavra. Não são poucos os trechos em que a benignidade e o amor de Deus são evidenciados no Antigo Testamento. Tampouco o Novo Testamento omite a morte de Ananias e Safira como consequência fulminante da sua infidelidade perante a santidade do Altíssimo, sem contar tantos outros adoecidos e mortos pelo Juízo divino.

Por outro lado, essa expectativa revela também certa medida de indisposição para conhecer o caráter e os atributos de Deus, e talvez alguma soberba e vaidade que não permitem aceitar, compreender ou mesmo considerar que o Deus revelado possa ser maior que o conhecimento do homem mortal.

Nenhuma pessoa seria julgada falsa ou instável porque se mostra séria em um contexto e descontraída em outro, nem porque se relaciona de forma amistosa com algumas pessoas ao passo que é agressiva com outras. A comparação é pífia, mas se até os homens podem ter uma personalidade extensa e complexa, e podem escolher revelar ou ocultar características conforme o contexto e os relacionamentos em que se inserem, por que seria o Criador uma figura tão simplória e limitada?

A revelação divina através do seu relacionamento conosco nos dá a oportunidade de conhecer seus diferentes atributos nos mais diversos contextos e, ainda assim, enxergar a sua unidade, imutabilidade e infinitude. Antes de pensar em incoerências, é necessário visualizar o contexto e o relacionamento que Deus estabelece com as pessoas.

O Senhor dos Exércitos guerreia com e pelo seu povo. O amigo de Abraão, com seu relacionamento pessoal – o Deus de Abraão – se assenta à mesa com ele. Davi encontra em Deus o refúgio e o perdão. Ele é o pastor, o cuidador, o servo, mas também é poderoso e implacável contra o ímpio. No entanto, precisamos que venha o Filho para nos mostrar o Pai.

A palavra Pai não era uma forma comum de se dirigir a Deus na comunidade da velha aliança. Seu nome era inefável; Ele não deveria ser mencionado com qualquer grau de intimidade. O termo Pai quase nunca foi usado para falar sobre Deus ou para se dirigir a Ele em oração no Antigo Testamento. Mas no Novo Testamento, Jesus nos traz a um relacionamento íntimo com o Pai, rompendo a separação simbolizada pelo véu do templo. Jesus nos deu o incomparável privilégio de chamar a Deus de “Pai”.[1]


É Jesus Cristo quem nos ensina a orar ao “Pai nosso”, e a partir dos evangelhos encontramos a ideia de que somos adotados por meio da redenção em Cristo, com a prerrogativa de sermos chamados “filhos” de Deus, porque cremos no seu nome. Essa revelação não significa que a partir do Novo Testamento se torna Pai, mas que através do Filho podemos conhecer e desfrutar da paternidade divina.

A ideia de um Deus íntimo, paternal, não está excluída no Antigo Testamento, mas somente se desenvolve quando o Filho nos revela o Pai, e nos dá o privilégio de, por meio do Espírito Santo,

É certo que a nossa finitude não consegue compreender toda a extensão de um Deus infinito, mas podemos e devemos conhecer os atributos que Ele já nos revelou. A profundidade no conhecimento de Deus dissipa as supostas incoerências e nos faz perceber a graça que se estende aos seres humanos em toda a revelação bíblica, e até os dias de hoje. A revelação de Deus não é inconstante nem instável, mas progressiva e contextualizada. Hoje podemos dizer que é perfeitamente possível conhecer a Deus, porque o que nos era impossível Ele já fez: Deus se revelou.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HUTCHINSON, Robert J. Uma história politicamente incorreta da Bíblia. Rio de Janeiro: Agir, 2012.

KAISER, Walter C., Jr. O plano da promessa de Deus: teologia bíblica do Antigo e Novo Testamentos. Trad. Gordon Chown, A. G. Mendes. São Paulo: Vida Nova, 2011.

MACARTHUR, John. O resgate do pensamento bíblico: recuperando uma visão de mundo alicerçada nos princípios bíblicos e na mensagem cristã. São Paulo: Hagnos, 2018.

PIPER, John. Em busca de Deus: a plenitude da alegria cristã. 2. ed. São Paulo: Shedd, 2008.

SPROUL, R. C. Does Prayer Change Things? (Crucial Questions Series Book 3) Reformation Trust Publishing. Edição do Kindle.

VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica. 2. ed. Trad. Alberto Almeida de Paula. São Paulo: Cultura Cristã, 2019.



[1] The word Father was not the basic form of address for God found in the old covenant community. His name was ineffable; He was not to be addressed with any degree of intimacy. The term Father was almost never used to speak of God or to address Him in prayer in the Old Testament. But in the New Testament, Jesus brought us into an intimate relationship with theFather, breaking down the partition symbolized by the veil in the temple. Jesus gave us the incomparable privilege of calling God “Father.” SPROUL, R. C. Does Prayer Change Things? (Crucial Questions Series Book 3) Reformation Trust Publishing. Edição do Kindle. (p. 20-21). Tradução livre.

As últimas leituras de 2018

O último ano foi muito produtivo em minhas leituras, ainda mais considerando que eu não consegui ler quase nada entre maio e setembro, e mesmo assim terminei com 21 livros lidos. Foram 7225 páginas no ano, mantendo uma média de cerca de 20 páginas por dia, apesar do hiato. Eu consigo todos esses dados porque uso o Skoob para registrar as minhas leituras. Adicionando os livros que estou lendo e os que pretendo ler à meta de leitura anual, consigo um relatório bem legal do meu desempenho no final de cada ano.




Ficção
Robin Hood
A gente conhece a história, mas não conhece as histórias... Há muito mais camadas sob o famoso "bom ladrão", que rouba dos ricos para dar aos pobres. O livro "oficial" de Alexandre Dumas conta toda a história do herói, desde a sua adolescência até a morte, com flashbacks para a sua origem extraordinária. São muitas as histórias descritas no livro - aventura, estratégia, romance, habilidades incríveis e todo o estilo de vida dos homens da floresta e seus amigos. A edição que eu li é da coleção de Clássicos da Zahar, com capa dura, ilustrações e notas interessantes - disponível para empréstimo.

O Pequeno Príncipe
Me desafiei a uma releitura da clássica história que conheci quando criança, e odiei. Agora eu odeio menos, mas para ser sincera, ainda acho que é uma história meio boba com um monte de "filosofia" do tipo "aquilo que as pessoas querem ouvir". Desculpa, sociedade.

Coração de Tinta
O que aconteceria se tudo o que você lesse se materializasse no nosso mundo? Depende do que você lê... Esse é o primeiro livro de uma trilogia, em que um vilão sequestra o leitor com a língua encantada para que ele traga à existência algumas outras catástrofes fictícias. Enquanto isso, a sua família procura por ele por pequenos vilarejos italianos. Não é uma história para pensar, é para se envolver. Eu gostei muito desse livro e quero ler os próximos.

O Mundo de Sofia
Corrigindo uma falta da minha adolescência, finalmente li sobre a aventura de Sofia com o mundo da filosofia. A leitura introduz muito bem alguns dos principais nomes da filosfia antiga e moderna, intercalando com um mistério vivido por Sofia. Achei o final um pouco decepcionante, meio preguiçoso, mas a historinha serve bem para instigar a curiosidade e ajudar a levar adiante uma leitura que, para adolescentes, pode ser bem grande.

Não-ficção
Guia Politicamente Incorreto dos Presidentes da República
A minha edição vai até o governo Temer e, veja bem, não é exatamente um livro de história. Há muitas curiosidades, anedotas e a intenção de expor as figuras políticas em seus piores momentos, sem poupar ninguém. É claro que os momentos históricos acompanham, mas o que eu achei mais interessante sobre cada um foi a vida pregressa à presidência de cada um. Sobre o assunto presidenciais, recomendo mais ainda o podcast (que virou livro) Presidente da Semana, de Rodrigo Vizeu. Mas se você já ouviu/leu e gostou do Vizeu, vai curtir também essa leitura.

Uma Fé Pública
Essa foi a minha indicação no Clube do Livro, que trata do engajamento político dos cristãos na sociedade. A abordagem do autor começa explorando onde e como os cristãos têm falhado no seu ativismo social e termina mostrando como uma fé engajada pode fazer uma diferença relevante e colaborativa. Um trabalho muito bem feito a partir de palestras e artigos do autor revolvendo o assunto. Todos os textos foram bem editados para o formato de livro, em uma estrutura que faz sentido e facilita a compreensão.

Terceiro Setor e as Parcerias com a Administração Pública
Livro ruim, mal escrito e com um posicionamento que eu considero inadequado. É uma dissertação de mestrado que não foi preparada para se transformar em livro. Muita escrita acadêmica, muito texto desnecessário e, quanto à conclusão... não posso afirmar que o autor estava certo há quinze anos, mas hoje a sua conclusão pode ser vista como equivocada e preconceituosa. Melhor não perder tempo...

O Grande Livro do Bebê
Escrito por uma pediatra e lido por uma gestante. Algumas informações são realmente importantes, outras são desatualizadas e chegam a ser um desserviço - e o livro não é antigo, tá? A maior parte do conteúdo do livro pode ser assunto de uma boa consulta pediátrica, com um tratamento mais individualizado e contextualizado. Além disso, traz algumas listas de coisas que você "vai precisar" que não correspondem à realidade universal. Tem boas ilustrações de primeiros socorros, mas isso você também encontra na internet.

Inteligência Humilhada
A última leitura do ano também veio do Clube do Livro. Provavelmente a leitura mais densa e desafiadora do ano... Jonas Madureira fala sobre fé e razão a partir de uma fé pensante e uma razão orante. Equilibrado entre os extremos, ele coloca o leitor de joelhos sobre aquilo que não conhece, o que pensa que conhece e o que deveria conhecer. Preciso reler.

Teologia Bíblica: comparando as obras de Walter Kaiser e Geerhardus Vos (Série Essencial Invisible College)

Esta é uma série de textos escritos para o curso de Teologia Essencial do Invisible College. O curso consiste no estudo de um tema da teologia por mês com leitura de um livro, materiais complementares em texto, áudio e vídeo, um fórum de perguntas e respostas com um convidado, uma sessão de tutoria com um dos professores em um grupo pequeno e a entrega de um texto (resenha ou artigo). O texto a seguir foi escrito em Fevereiro de 2021 para o tema Teologia Bíblica do Antigo Testamento.




Nos meses de Fevereiro e Março de 2021, o curso Teologia Essencial do Invisible College aborda a Teologia Bíblica, utilizando como livro-texto principal o clássico de Geerhardus Vos para a disciplina e, como leitura alternativa, a proposta de Walter C. Kaiser Jr. Estas obras serão analisadas comparativamente, em sua abordagem, metodologia e conteúdo. Cabe a ressalva de que o conteúdo analisado se refere às porções que tratam do Antigo Testamento, estudadas durante o mês de Fevereiro.

As obras introduzem a Teologia Bíblica enquanto disciplina teológica, definindo o seu estudo e esclarecendo a abordagem adotada pelo autor. Geerhardus Vos traz a definição: “Teologia bíblica é aquele ramo da teologia exegética que lida com o processo da autorrevelação de Deus registrada na Bíblia” (p. 16).

Nessa introdução, Vos discorre de forma bastante acadêmica os princípios, metodologias, usos e até críticas sobre a disciplina, reservando um capítulo inteiro (Capítulo 2) para explicitar a sua abordagem teológica. Kaiser, por sua vez, dedica-se em sua introdução a definir e explicar a “proposta epangélica[1] de teologia bíblica”, diferenciando-a das demais. Nesse esforço, acaba fazendo uma exposição mais ampla das diferentes abordagens teológicas a respeito da revelação bíblica, trazendo suas principais premissas e as críticas mais comuns.

A filiação teológica de cada um dos autores terá grande impacto não apenas no conteúdo da sua teologia bíblica, mas especialmente no método e na forma como ela é apresentada.

De tradição aliancista, Geerhardus Vos não se dá ao trabalho de explicar o que é o aliancismo, nem mesmo utiliza essa palavra para descrever a sua teologia. Ele não se interessa em destacar ou defender a sua posição frente a outras correntes teológicas. As inúmeras e ferrenhas críticas a outras publicações estarão localizadas e contextualizadas em seu texto, ao longo do estudo da revelação.

O epangelicalismo defendido por Kaiser Jr. não tem tanta visibilidade nos seminários teológicos. O próprio autor reconhece que as principais propostas de “unidade de perspectiva” bíblica são a aliancista e a dispensacionalista. Por isso mesmo, ele procura definir, criticar e diferenciar as principais correntes para, em seguida, apresentar a sua proposta “epangélica”, que não se baseia no(s) pacto(s) ou nas dispensações da graça, mas na promessa.

É importante destacar que, para defender a sua visão teológica, Kaiser acaba incluindo na visão aliancista algumas ideias minoritárias que são especialmente criticadas entre os aliancistas tradicionais, como a inclusão de diversas alianças “hipotéticas ou implícitas”. Essas diferenças são melhor abordadas quando ele trata das diferentes formas de relacionar Israel e a igreja.

Para melhor compreensão do conteúdo abordado a seguir, podemos definir rapidamente as correntes teológicas apresentadas até aqui.

A teologia da aliança (ou do pacto) encontra na aliança a unidade do plano de redenção. Ela distingue o pacto das obras (no Éden) do pacto da graça, narrado em Gênesis 3, que unifica toda a história do povo de Deus a partir desta aliança.

A teologia das dispensações faz franca separação entre Israel e a Igreja, sendo povos distintos, com os quais Deus se relaciona de modo peculiar e em tempos diversos. Neste sentido, não há unidade na teologia bíblica, mas uma cisão clara e proposital entre o Velho e o Novo Testamento.

A teologia da promessa, o epangelicalismo apresentado por Kaiser, tem na promessa de Deus, e não no pacto, o condão de unidade bíblica. Essa promessa feita à humanidade foi enriquecida e ampliada no decorrer da revelação.

Geerhardus classifica a revelação em pré-redentora e redentora. Esta é dividida didaticamente em períodos identificados pela pessoa que recebeu a revelação. Assim, o Antigo Testamento é dividido em duas grandes partes: o período mosaico e o período profético da revelação. Kaiser, por sua vez, abordará o Antigo Testamento livro por livro, agrupando-os em capítulos que localizam a promessa no conjunto bíblico apresentado.

Quanto ao conteúdo, Vos parece desenvolver um pensamento mais consistente, com a colaboração de sua abordagem histórico-linear. Ele não se preocupa em abordar todas os livros ou mesmo todas as narrativas bíblicas, mas em explorar o desenvolvimento progressivo da revelação sob a ótica da aliança. O autor aborda com profundidade o conteúdo da revelação através dos atos sucessivos em que ela se desdobra. Além disso, as pessoas que recebem essa revelação especial e as formas pelas quais Deus se revela são estudadas.

Importante destacar que o autor não demonstra amplo conhecimento apenas sobre a sua linha teológica, mas conhece muito bem as ideias que não se conformam com o seu ponto de vista. Frequentemente ele inicia os assuntos apresentando extensivamente as mais diversas teorias, chegando a confundir o leitor que se surpreende ao se deparar, em seguida, com as suas críticas sobre o que ele acaba de descrever com fidelidade. Quase sempre, o texto apresenta essa sequência: explanação de ideias equivocadas, crítica sobre essas ideias e apresentação da compreensão correta sobre o tema.

A escolha de Kaiser em apresentar o seu conteúdo a partir dos livros da Bíblia pode tornar a leitura mais reticente. Ainda que haja um ponto de convergência a ser apontado (a promessa), o “plano da promessa” não parece se desenvolver com o ritmo que Vos confere à sua obra. Conforme já destacado, os livros da Bíblia são apresentados de modo a explorar a sua posição em relação à promessa. Nessa perspectiva, o autor explora os principais assuntos de cada livro, com seu contexto, identificando-os com o tema atribuído à seleção que compõe o capítulo. De modo geral, Kaiser aborda um conjunto de temas mais extenso, procurando sempre associá-los à promessa, mas tem dificuldades em conduzir o leitor em sua linha de raciocínio. Não há qualquer dúvida, no entanto, quanto à sua erudição e capacidade de abordar cada um dos temas comentados.

Geerhardus Vos e Walter Kaiser Jr são teólogos de grande nome e muita sabedoria, que procuram responder à pergunta: “Qual o tema central da Bíblia?” Ainda que suas respostas sejam diferentes, ambos cumprem a missão de atrair o estudante para o estudo da teologia bíblica. Geerhardus Vos consegue trazer uma leitura mais agradável, mesmo tratando de temas mais difíceis, mas a leitura de Kaiser também é útil para conhecer e comparar outras perspectivas sobre a teologia bíblica.

Referências Bibliográficas

KAISER, Walter C., Jr. O plano da promessa de Deus: teologia bíblica do Antigo e Novo Testamentos. Trad. Gordon Chown, A. G. Mendes. São Paulo: Vida Nova, 2011.
VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica. 2. ed. Trad. Alberto Almeida de Paula. São Paulo: Cultura Cristã, 2019.



[1] O termo “epangélico” tem origem na palavra grega epangelia, isto é, promessa.

Deixa eu mamar?

Eu costumo dizer que o desmame aconteceu com a gente. Parece estranho falar isso. "Não amamentou que chega?". Consigo imaginar as mães que não conseguiram amamentar revirando os olhos enquanto eu "reclamo de barriga cheia". Mas eu tenho uma história interrompida - que não se compara com nenhuma outra, ela é só minha.

Amamentei Maria Elisa por 2 anos, 3 meses e 23 dias. Ontem estava guardando as roupas dela e encontrei uma camiseta com os escritos "Mamo, não nego, paro quando quiser". Doeu um pouquinho. Ela não parou porque quis. Nem porque eu quis.


Uns vinte dias antes de acontecer, eu falei com a Ludy (amiga pediatra da Maria): "Será que vou estar amamentando no próximo agosto dourado? Nem sinal de desmame por aqui..." Eu sabia que poderia acontecer, mas foi tão repentino. Não deu tempo da gente se preparar, se despedir. 

O leite acabou.

Eu sabia que poderia acontecer. Lactogestação - a gestante que amamenta - corre esse tipo de risco. Eu achei que as coisas poderiam seguir naturalmente, ou que um dia ela diria, "ihhh, acabou", e não pediria mais. A verdade é que foi uma grande frustração. Estava mais para "como assim, cadê meu leite?!", e foi assim que rapidinho as coisas ficaram insuportáveis.

Não estou usando essa palavra de forma leviana. Eu suportei muita coisa. Choro, dor, sono, insegurança, cansaço, medo, doença, drenagem... eu ia dizer que todo mundo sabe qual é o seu limite, mas a verdade é que a gente não sabe muito bem, até chegar ali, na beira. 

Eu amei amamentar, e achei que estaria pronta quando chegasse a hora, mas a despedida foi na terapia. Eu não amei o desmame, fico até aliviada em dizer. Não foi como eu sonhei, projetei, imaginei. A Semana Mundial do Aleitamento Materno me lembrou disso. As redes sociais estão cheias de tetas, e eu sinto uma saudaaaade de amamentar.

Ela sente saudade também. De vez em quando, ela encosta só pra fazer carinho. Já chegou até a dizer "Deixa eu mamar?". Um pedido tímido e meio sem graça. Uma vez eu deixei, mas parece que ela já tinha esquecido como é (ou o meu peito vazio que não é o mesmo?). Foi esquisito. Ela também achou. Não durou vinte segundos.

Paciência.

Hermenêutica e o Desafio da Educação Cristã (Série Essencial Invisible College)

Esta é uma série de textos escritos para o curso de Teologia Essencial do Invisible College. O curso consiste no estudo de um tema da teologia por mês com leitura de um livro, materiais complementares em texto, áudio e vídeo, um fórum de perguntas e respostas com um convidado, uma sessão de tutoria com um dos professores em um grupo pequeno e a entrega de um texto (resenha ou artigo). O texto a seguir foi escrito em Janeiro de 2021 para o tema Hermenêutica Bíblica.




A Bíblia é a Palavra de Deus, a revelação divina para a humanidade. É confortador saber que o Espírito Santo é o intérprete fundamental, comunicando por meio do texto bíblico a mensagem de salvação em linguagem acessível a literatos e iletrados. No entanto, a falta de conhecimento pode fazer perecer aqueles que tentam abordar o texto bíblico de forma equivocada, ainda que com “as melhores intenções”.

A dificuldade de leitura e compreensão de texto na população é um dos obstáculos que se impõem entre o evangélico brasileiro e as Escrituras Sagradas. Nos últimos séculos, muito se avançou no letramento dos leigos – uma tarefa encabeçada pela Igreja e adotada pela sociedade e pelo Estado na civilização ocidental. No entanto, o texto bíblico traz peculiaridades que devem ser observadas para a sua melhor interpretação. A lacuna da hermenêutica bíblica precisa ser preenchida pela Educação Cristã.

Acesso às Escrituras

O acesso às Escrituras Sagradas tem movido a Igreja nos últimos séculos a diversos avanços sociais, linguísticos e tecnológicos. O objetivo de levar a Palavra de Deus a todo povo, língua e nação, crendo, ainda, no sacerdócio universal de todo cristão, tem sido facilitado pela sistematização de idiomas escritos, a criação da imprensa, a abertura de escolas e alfabetização em massa da população.

No entanto, como reflete ENKVIST, “Pensar que a leitura é apenas uma habilidade é um erro. O importante não é a leitura em si, mas a compreensão da leitura que se baseia na compreensão do mundo.” Quão disponível está o texto bíblico, se ele pode ser lido, mas não compreendido? Aquele que lê e não interpreta, realmente leu?

O Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) de 2018 relata que 13% da população brasileira com Ensino Médio completo corresponde a analfabetos funcionais, e apenas 34% das pessoas que chegaram ao nível universitário podem ser consideradas letradas proficientes, isto é, “pessoas cujas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais”.

Uma pesquisa Datafolha publicada em 13 de janeiro de 2020 distribui a escolaridade da população evangélica brasileira em 35% com Nível Fundamental, 49% em Nível Médio e 15% no Nível Superior. Os dados confirmam o que a evidência empírica tem sinalizado: o evangélico brasileiro tem dificuldades para ler e interpretar as Escrituras, e isso se reflete na sua vida devocional, no evangelismo e no serviço cristão.

Entendes o que lês?

O estudo da Palavra de Deus é atividade coletiva e individual, que não encontra limites etários, sociais ou acadêmicos. São diversas as passagens bíblicas em que o ensino é ordenado: em casa, aos filhos; nas ruas; nos templos; no discipulado.

Nesta jornada, o educador cristão, seja na função de pregador ou mestre, professor de escola bíblica ou de seminário, discipulador ou líder de pequeno grupo, precisa estar consciente da relevância da sua tarefa e esmerar-se ao estudar e interpretar as Escrituras para o seu público-alvo.

A disciplina do estudo nos transforma pela renovação da nossa mente. O zelo do professor em aprofundar-se no conhecimento do objeto de estudo bíblico é uma manifestação do zelo pelas Escrituras, a fim de transmitir a Palavra de Deus tal como Ele a revelou.

O trabalho educativo crucial para a Igreja contemporânea está no desenvolvimento das aptidões para o estudo individual e dirigido. Uma geração de adultos que mal lê, mal interpreta e tem pouco espaço para desenvolver o pensamento no âmbito eclesiástico terá grandes dificuldades em instituir uma rotina de devoção e estudo bíblico individual, e maiores ainda ao assumir posições de liderança e instrução, seja em casa, no discipulado individual, ou em ministério eclesiástico.

O incentivo à leitura bíblica não pode ignorar o fato de que muitos cristãos não entendem, ou entendem mal, aquilo que leem. Para este exercício de devoção individual, não basta ter acesso a alguém que lhe explique as Escrituras. É importante que os cristãos desenvolvam as ferramentas adequadas para fazer o seu próprio exercício hermenêutico com a autonomia e desenvoltura que se espera de cristãos maduros.

Além de ensinar a partir de uma interpretação adequada das Escrituras, o educador cristão deve ter o cuidado de transmitir aos alunos os princípios que lhes permitirão acessar o texto bíblico, promovendo a autonomia para o estudo bíblico e para o exercício do ministério cristão por cada crente.

Hermenêutica para não leitores

O estudo da Hermenêutica é útil para todos os cristãos, mas nem todos terão repertório intelectual para entender a necessidade do estudo, ou mesmo para absorver o seu conteúdo no campo filosófico, dedicando tempo ao estudo da hermenêutica enquanto doutrina abstrata.

Disso não se depreende que alguns, por sua juventude ou imaturidade intelectual, devam ou possam ser privados do estudo da hermenêutica, mas que este será incutido na forma de princípios, na prática do estudo bíblico, introduzindo hábitos de leitura que remetem às boas práticas da hermenêutica bíblica.

Os princípios de interpretação bíblica são especialmente úteis aos que leem a Palavra de Deus, mas também são válidos para os que, por qualquer impedimento, apenas ouvem a leitura de terceiros, pois a comunicação oral não prescinde de interpretação. Essa situação exige especial cuidado do leitor em manter a fidelidade do texto.

É comum que as primeiras porções da Bíblia apresentadas ao leitor ou ouvinte sejam narrativas. Muitas crianças são familiarizadas com “a história de Adão e Eva”, “Noé e sua arca”, “Davi e Golias”, enquanto outros que iniciam a vida com Cristo mais tarde tendem a começar o estudo da Bíblia pelos evangelhos.

Para muitos jovens que congregam em família, as narrativas contadas por seus pais, professores de escola bíblica, em músicas e filmes infantis serão a única versão da história bíblica que conhecerão por pelo menos uma década. O educador cristão precisa ter o cuidado para apresentar uma porção suficiente da história bíblica, sem acrescentar adornos ou retirar detalhes que descaracterizem a narrativa.

É crucial que o leitor ou ouvinte entenda que Deus é o protagonista da Bíblia e de todas as suas histórias. Esse princípio deve ser observado mesmo em resumos e histórias curtas, não apenas observando se Deus está presente na narrativa, mas dando destaque à intervenção divina como ponto central da história.

O uso de material extraído e adaptado das Escrituras pode ser um recurso didático interessante, mas somente quando amparado pelo amplo conhecimento do educador a respeito do texto original e da tradição cristã associada à interpretação de cada texto. O conhecimento do texto bíblico na fonte é imprescindível para evitar que se perpetuem mitos e alegorias inseridos pela tradição oral, sem respaldo bíblico.

O ensino da Hermenêutica

O estudo bíblico cada vez mais se consolida como necessidade e interesse de todos os cristãos, mas o estudo da hermenêutica ainda soa como uma exigência técnica a ser estudada nos seminários e institutos bíblicos, uma matéria complicada para os mais simples. Neste sentido, é dever do educador cristão aculturar os seus educandos para a necessidade e a própria possibilidade do estudo da hermenêutica.

Não obstante, o ensino da hermenêutica pode ser inserido no estudo bíblico, tendo o cuidado de apresentar a interpretação adequada do texto bíblico e de reproduzir o trabalho exegético no texto em conjunto com o estudante, apresentando a interpretação bíblica na prática.

A hermenêutica bíblica não é tema restrito aos especialistas, mas uma importante ferramenta para a vida devocional, discipular e ministerial do cristão, independente do seu nível de maturidade ou letramento, cabendo à Educação Cristã ensinar a interpretação bíblica, traduzindo os conceitos hermenêuticos conforme a capacidade e necessidade dos educandos.

Referências Bibliográficas

50% DOS BRASILEIROS SÃO CATÓLICOS, 31%, EVANGÉLICOS E 10% NÃO TÊM RELIGIÃO, DIZ DATAFOLHA. G1, 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/ noticia/2020/01/13/50percent-dos-brasileiros-sao-catolicos-31percent-evangelicos-e-10percent-nao-tem-religiao-diz-datafolha.ghtml Acesso em 27.01.2021.

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